Renascença
França 1, Brasil 0. Eu tava no Renascença, clube do Andaraí, comemorando meu aniversário. Depois do jogo teria samba. Teria não, teve. Pela falta de dignidade do defunto, o luto sobre o time de Parreira, Cafu e (…) – precisa escalar os 11? – não seria capaz de cancelar nem reunião de condomínio.
Mas a derrota bateu. A ira e tensão demonstradas durante o jogo viraram apatia por breves segundos depois do apito final. Logo em seguida, homens instauravam mesas redondas explicando o fracasso por A+B, com teorias elaboradas ao longo de uma vida (“Parreira é um cagão”) ou em poucos minutos (“Parreira é um cagão”). Mulheres murchavam, com suas depressões verdamarelas.
O batuque aos poucos foi instaurando a ordem. Lá pelo meio, cantou-se com vontade a indisfarçável mágoa dos versos “Chora, não vou ligar/ Chegou a hora/ Vais me pagar (…)/ Eu vou festejar/ (…)/ Você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão”. Às 22h, a festa acabou com “O show tem que continuar”, de Luiz Carlos da Vila. A ode à superação falava de uma forma linda todas as obviedades que precisávamos e queríamos ouvir (“Se os duetos não se encontram mais/ Se os solos perderam a emoção/ Se acabou o gás/ Pra cantar o mais simples refrão/ Se a gente nota/ Que uma só nota/ Já nos esgota/ O show perde a razão/ Nós iremos achar o tom/ O acorde com o lindo som/ E fazer com que fique bom/ Outra vez/ O nosso cantar”).
(Incomodou o trecho “Nós iremos até Paris/ Arrasar no Olympia”, mas não deixou de ser engraçado)
A cidade fala e, naquele dia, falava pelos versos daquelas canções. E também de outras maneiras.
– O telão estava armado na quadra do clube. Torcedores lotavam o local. Fim da partida, todos saem e os garotos começam a jogar bola naquele mesmo espaço. É assim que é.
– Na parede estava escrito “Clube Renascença – 55 anos de resistência”. Nem sempre resistir é sinal de inteligência, mas muitas vezes indica dignidade. É valor.
– Outra inscrição na parede (com pontuação um tanto esquisita): “Difícil? É fazer o fácil.”
“A falta de dignidade do defunto…”
Sensacional, Lichote.
A bola não pode parar de rolar…
feliz aniversário, leonardo.
tudo de bom!