Cariocas adoram dar informação
O carioca adora dar uma informação. Em matéria de boa vontade ao sermos perguntados por uma rua, um endereço, a casa da Cicinha que fica do lado de um muro cinza; somos nota 10. Doze, até. E mesmo que não faça a menor idéia de onde fica tal rua – ou caso já tenha vagamente ouvido falar – o carioca vai se esforçar para te ajudar, mesmo sabendo que está chovendo no molhado. Fica feliz de ter contribuído, de ter se solidarizado à tua busca por tal localidade e/ou endeço. E se por um acaso as circunstâncias tornam evidente demais o fato de que ele nem sequer imagina onde fica a tal loja que você está procurando, o carioca fica chateado, agoniado, e parte contigo em busca de respostas. Te ajuda a catar alguém mais experiente naquela esquina. Consulta o jornaleiro-oráculo. Pergunta pro anotador do bicho, que está há 45 anos sentado naquela mesmíssima cadeira. Que por sua vez abre um sorriso enorme por ter sido ele o felizardo capaz de desvendar o enigma da rua Castorino de Souza de que ninguém nunca tinha ouvido falar. Menos ele, claro, macaco velho que viu a rua ser asfaltada naquela tarde de fevereiro, final dos anos 60. Hospital dos Servidores? Tô indo pra lá! Entra aí no carro que eu te levo… (no que abre a porta do Chevette e convida o até então estranho a entrar na viatura…)
O problema é ficar mal acostumado. Lembro-me de sofrer em Belo Horizonte. Ninguém sabe de rua nenhuma ou, pior, acha que sabe e me dá a informação errada.
Passei uma semana por lá e tive, entre outras experiências de caça ao tesouro, essas duas aqui:
#1
Eu e um conhecido que fiz por lá préviamente notificado por mim das minhas péssimas experiências no assunto.
– Onde tem um caixa 24h aqui perto?
– Segue por aqui e na segunda esquina tem um.
– É mesmo? – desconfiei.
– É. Não dá pra ver daqui por causa do prédio que esconde o caixa, mas é ali.
– Tem certeza?
– Eu moro aqui véio. Pode ir.
– Certo… deixa eu te pedir uma coisa? Você pode vir comigo?
– Não precisa não! Vai lá!
– Vem comigo por favor.
Fomos. Chegando na segunda esquina, ele olha pra mim e diz:
– Ih! É na terceira. Foi mal!
– #$@&**!!!
#2
No carro, de madrugada, duas locais me levando de carona sem saber como achar a Rua Rio de Janeiro (só podia). Depois de três tentativas inúteis, eu me contorcia de raiva no banco de trás, quando paramos para pedir ajuda a um rapaz que muito seguro e sem hesitar disse:
– Siga em frente por duas quadras, vire à esquerda, siga por uma quadra e você vai estar na Rua.
Agradecemos, a motorista começou a fechar o vidro e eu interrompi, gritando para o rapaz:
– Com licença… você mora aqui?
– Não. Sou do Rio.
– Obrigado! Pode tocar o carro tranqüila então beibe.
HAHA! Gostei do segundo caso!
E ahhh.. o post foi 10, hein, Cid!!!
hahahaha…. muito bom.
Não sei se é só comigo, mas em São Paulo também é problemático. Nunca obtive uma resposta “depois do cruzamento, segunda rua à esquerda, próximo do número tal”. Ao pedir uma informação para um paulista você obtém como resposta: “Ah é lá” (dedo apontado pro céu) ou “Logo ali, meio pra lá” (gestos bruscos para o vazio). Mas onde? “Lá, já disse”. E sai correndo.
ahhahahahaha
e em recife que neguinho não sabe o número dos prédios, mas sabe o nome?
“ahhh, tu mora ali no conselheiro aguiar, é?”
surreal.
Se não me engano esse lance de Recife era comum no Rio até os Anos 40 também, mas não dá pra ter certeza porque a fonte é um pernambucano. :P