coisas para se fazer no rio no carnaval com uma namorada súbita
Na sexta à tarde, enquanto a cidade parece prender a respiração pra gritar na sua cara antes do começo dos trabalhos, sair do seu trabalho três horas mais cedo e ir para a rodoviária; Esperar pelas próximas três horas pelo ônibus que simplesmente se recusa a aparecer no terminal; Negociar com o calor e o cansaço, apertar a vista e o coração a cada silhueta que poderia ser a dela; Ensaiar frases espirituosas que nunca serão ditas no nervosismo da hora; Abraçá-la quando ela chega, cansada de oito horas “fritando” no ônibus; olhar e olhar mais uma vez para confirmar, abraçar para fixá-la no Rio, seguir para casa
(…)
Acordar tarde; perder todos os blocos matutinos e não dar a mínima. Aproveitar o café tranquilo, fumando, temer pelo calor que se anuncia feroz, imaginar como estarão as ruas, notar o quanto já se gosta do sotaque e das gírias estranhas (e meio palhas, mas adoráveis), usar as mãos quando não se souber o que dizer; ficar com vergonhinha do almoço bestão de shopping mas dar o braço a torcer que pelo menos o ar-condicionado é do caralho. Fumar mais. Tocar violão. Reclamar do calor. Pegar uma carona com conhecidos solícitos e ir para o Jardim Botânico ver um bloco. Observar como o Rio de Janeiro lentamente começa a tirar a namorada súbita do sério (ela vem de uma cidade séria e noiada) com tanto espaço (“aqui é sempre assim?”), verde (“aqui é sempre assim?”), preguiça (“mas aqui é sempre assim?”), e general niceness carioca. Ver muita gente bêbada tostando, fumando, bebendo e namorando na rua – mas um pouco à distância e com nojinho, ambos turistas (uma recém-chegada, o outro nem tanto); Tomar latinhas de cerveja conforme o calor. Fugir do bloco rápido, voltar pra casa de ônibus, reclamar do calor, agradecer por ainda ser Sábado apenas, fumar mais…
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Bed-ins e brigas com mangueira d’água no quintal; chinelice e sacanagem.; Dar um pulo no Arpoador porque ela toca uma música do Cazuza que menciona o lugar mas nunca havia ido lá. Ouvir sorrindo o quanto ela está achando o Rio inacreditável; ouvir termos como “idílio”, “trégua” e “acampamento de férias”; Achar graça da leve neura da namorada súbita em beijar na rua “porque em SP neguinho buzina”. Afirmar peremptoriamente, com toda a segurança de um citadino: “Fica tranquila, madame, aqui ninguém buzina”; Fugir pra casa…
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Ser expulsos da cama pelo telefone, partir pro Jardim Botânico, ficar de bowa’s na cobertura de amigos com Billie Holiday, clérbero, piscina, cerveja e uma vista do Rio (Jóquei, Corcovado, the whole shebang) que deu o nocaute na namorada súbita (foi pras cordas, daí pro chão, contagem até dez, não levantou mais). Eu, que não sou carioca, agradeço discretamente a ajuda da cidade e dos amigos: Foi um massacre, foi covardia; Daí comer no Varandão em Vila Isabel, que é barato e barulhento com a apuração de resultados das escolas e voltar pra casa sentindo um gosto de cinzas. À noite, combater um exército de bodes com vinho, violão, beque, massagem de pé. Ficar mal pra caralho e ainda assim feliz.
Na Quinta: Acabou.
acaba comigo, elton.
acaba comigo.
te avisei, né…
mas foi bom ouvir “ó, tem a semana santa chegando aí” >)
Essa está sendo a pior quinta-feira depois de carnaval de toda a minha vida…
Isso sim!
a) Clebero
hahahaha
Muito Bom, Elton.
Deve ter sido bacanoso.
Ciceronear assim fica fácil nénão?
Belo texto.
Abraço.
nó, que mala ela :P