“Beija que sara”
Metrô. Sexta-feira. 18 horas. Largo do Machado. Consigo me posicionar em frente àquelas cadeiras para idosos, gestantes e deficientes. Apesar da superlotação e da minha claustrofobia, principalmente pela falta de ventilação e da fusão louca de cheiros, muitos cheiros, consigo me concentrar para acabar de ler o último conto do livro de tais, da Katherine Mansfield. Sentada à minha frente, uma menina com uniforme de escola pública, arrisco uns 7 anos. Lê a revista do Cascão, e em seu colo mais 6 revistinhas. Magali, Mônica, Cebolinha e meu favorito, Chico Bento. O metrô é silencioso quando não há um grupo de 3 amigos que conversam sem se incomodar em ser o rádio da viagem. Pois é impossível não prestar atenção na conversa alheia dentro do metrô. No ônibus, a vista ainda te salva, mas no metrô, todos se olham, todos se escutam. Acabei de ler KM, o livro gordo, pesado na minha mão, a menina ali, lendo balançando as pernas – saudade da época que pernas balançavam para leitura. Resolvi assassinar o silêncio do vagão e perguntei, quase como num susto por coincidência em ver alguém com a mesma blusa que eu: “Qual é o seu personagem favorito?” Nasci com visão panorâmica. Ou seria paranóica? Ao fazer a pergunta, senti o peso dos olhares das dezoito horas. A menina disse que gostava mais da Mônica. Eu disse que amava o Chico Bento. A vó da menina parou de ler O Extra e me olhou sem rir. Calma, senhora, não sou tão estranha. Continuei num universo próprio com a menina, explicando que eu havia aprendido a ler com a turma da Mônica. Foi a primeira coisa que li fora da escola. E lembro até da primeira história que li, em voz alta, para minha orgulhosa genitora. Falamos do gato da Magali, ela contou que tem uma amiga que fala que nem o Cebolinha, eu falo do Penadinho, Papa Capim e muitos et ceteras. A menina, então, diz que vai ler, para mim, uma história “muito engraçada”, que ela acabou de ler. A vó pede silêncio, diz alguma coisa sobre atrapalhar, mas como já esqueci dos outros, acho que ela está falando de mim, e como não acho que ela vai atrapalhar, incentivo a leitura da menina, que começa de maneira brilhante com uma onomatopéia de dor. “Aiiiii”. Crianças falam alto. É maior do que elas. Uns fazem cara de cu e pensam na semana sofrida que tiveram, outros riem da menina fofa que agora lê para um terço do vagão uma história sobre a Mônica dar um beijo em todos os amigos machucados. “Beija que sara” era o nome da história. A menina é uma atriz. Lê interpretando. Uma graça. Eu ali, em pé, com Katherine Mansfield no suvaco, e uma guria fofa toda vida lendo tura da Mônica em voz alta para mim, em pleno metrô – a essa altura já estávamos na Uruguaiana. No final, o Cascão se machucava, a Mônica olhava para o braço dele, sentia nojo da sujeira e fazia um curativo. Ela gargalhava, eu gargalhei, a vó já ria, as pessoas já riam também, uma felicidade foi tomando conta das 7 ou 8 pessoas que presenciavam a cena. A menina perguntou o que eu estava lendo, crianças sempre nos dão susto sendo óbvias. Disse que era um livro que ela com certeza leria no futuro. A vó disse: “Essa aí vai ser atriz, menina”. Achei de bom grado perguntar o nome. Vitória. O nome dela era Vitória. Ela disse que em casa tinha mais de 100 revistas. Cem é um número grande para uma criança. Ri e disse que esperava que um dia ela tivesse mil. Ela riu. Nos despedimos. Fui sorrindo para casa, parei na banca que costumo comprar revistas e já sou até amiga do dono, comprei 2 almanaques do Chico Bento, como às vezes faço, e li gargalhando e interpretando cada CABUM, TIBUF, SMACK que encontrava pela frente. Agora já é domingo, quase segunda, não lembro mais do rosto da Vitória. Mas lembro da risada. Balanço as pernas.
Eu também gostava muuuito do Chico Bento, mas conheci o Homem-Aranha e deixei o Chico pra trás.
Eu sempre curti mais o cebolinha e o cascão.
E acha o Rolo muito doido. Tinha uma namorada gatinha né? Qual era o nome dela? Rita?
Enfim, sua história foi muito maneira. O Metrô sempre nos rende ótimas histórias.
o nome da amiga do rolo (nunca foi oficial que eles namoravam) era Tina. e eu, claro, queria ser que nem ela quando crescesse. tinha tb o zecão e a pipa, dessa galera mais jovem, hahahahahaha.
Cada qual com seu dito voyeurismo, certo Gleidson? :)
Eu também sempre preferi o Chico Bento, mas por um motivo bizarro: eu tinha fascinação em galinhas (sim, a ave). As revistinhas do Chico Bento sempre traziam umas duas galinhas como figurante ali atrás… Eu só comprava a revistinha depois de folhear rapidamente e me certificar de que em um ou dois quadrinhos haveria galinhas como coadjuvantes. Elas eram marrons e tinha uma chamada Giselda, eu acho.
Até hoje, quando eu vou pro campo, eu acho galinha um bicho bom de se ver.
e volta a ser criança fácil. ah! a vida.
rsrsrs O mundo dá voltas, né, LP! rs
ai diogo, vc é ótimo.
a giselda é a galinha de estimação do chico, assim como o floquinho é o cão do cebolinha.
galinha é uma coisa admirável sim.
de se olhar.
e de comer.
ainda curto.
fazer o q?
Tb A-D0-RO Turma da Mônica!!! E ainda compro. Nada melhor pra levar numa viagem!!!
eu adoro o louco, o chico bento e o cebolinha, tenho um coelho da mônica. ainda bem que meu filho ama também :)
uma vez encontrei o mauricio de souza e falei para o André: olha lá, é o pai do cebolinha. ele desconfiou, mas perguntou para ele se era mesmo. Ele sorriu e disse: e do cascão também. Foooofooo :DDD
eu me acho parecido com o Louco…
Que delícia essa história :)
Não gosto de revista em quadrinhos e como não tenho memória, não sei se um dia já gostei.. devo ter gostado..
Falta do que fazer é fogo.
caralho! que texto lindo! alegrou meu dia…
e esses imbecis, hipócritas reclamando do cone?! Isso é falta do mesmo em seus respectivos cús! (com acento mesmo)
caralho! que texto lindo! alegrou meu dia…
e esses imbecis, hipócritas reclamando do cone?! Isso é falta do mesmo em seus respectivos cús! (com acento mesmo)