Archive for the ‘Bizarrice’ Category

Le Metro c’est très chic

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Mas ainda faltam algumas modernizações. Depois de separar o curral dos machos do curral da fêmeas e de introduzir o inglês nas mensagens que anunciam a chegada das estações — mas apenas o nome delas sobrevindo ao next stop, porque o resto das informações em inglês daria muito trabalho para traduzir — enfim, restam ainda algumas inovações.

Primeiramente poderiam criar o carro GLS porque, segundo me dizem, o carro das mulheres — respeito é bom e elas merecem — virou território para a prática de outras taras. Então, para evitar novos constrangimentos, criaríamos essa terceira viatura. Os bissexuais, por exemplo, poderiam andar nas três modalidades carrossexuais: a dos homens, a das mullheres e a dos GLS, desde que tragam sempre consigo a sua CNP — Carteira Nacional de Polissexualidade — e que se comportem direito, ora essa!

Poderíamos ter também a separação de carros por afinidades clubísticas — eu voltei outro dia junto com a raçaflá e não sendo raçaflassense sentí-me um pouco coagido — e outras diferenças econômicas, étnicas e culturais. Resta a questão das categorias híbridas… Em que carro vai um homem, 73 anos, nissei, necrófilo, kardecista, vascaíno, classe média, anarquista e obeso? Bom, nesse caso ele vai de táxi mesmo.

E porque não evoluir também nas informações poliglofônicas? Apenas como exemplo, a gravação diria o seguinte: Próxima estação Largo do Machado… estação de integração para Laranjeiras, Cosme Velho, blá-blá-blá, blá-blá-blá… e aí emendava: next stop Largo do Machado, prochain arrêt Largo do Machado, folgender Anschlag Largo do Machado, etc, etc, assim progressivamente.

A cidade holográfica

(more…)

E tome bala

Essa semana uma amiga e vizinha que mora numa pacata rua do Humaitá, com ares interioranos, teve sua casa atingida por uma bala perdida. O buraco na parede e a pergunta no ar: será que veio do Dona Marta? Pouco importa se o tiro quase foi na sua cabeça.

Aí lembrei, essa semana também completa um ano que, numa festa de aniversário de outra amiga, na laje de Santa Teresa, assistimos a uma saraivada de balas de AR-15. Luzinhas vermelhas voando de um lado para o outro. Um espetáculo até bonito, se desconhecessemos o fato de que aquilo era tiro e iria estacionar em algum lugar.

O que isso tem de novidade aqui no Rio? Nada. Fatos assim já até viraram paisagem no jornal. Mas quando sentimos o furo muito perto da gente, a notícia parece palpável e assustadoramente real.

O TV Pirata já escrachava com essa situação do Rio ainda nos anos 80.

Desculpa

Prometo voltar a escrever, convidarei mais escritores para tal tarefa também.
Aliás, alguém quer escrever aqui? Manifestem-se!

Continuo odiando agosto, sonhando com uma casa própria na Urca, e fascinada por umas luas que quase me fazem bater o carro em pleno Aterro do Flamengo.
Daqui a pouco o inverno acaba.
O inferno.

São os outros?

Leila impossível

Se você acha que os nossos vereadores se contentam em apenas alterar nomes de ruas ou conceder títulos de cidadãos honorários, enganou-se redondamente. A criatividade deles é quase infinita. Dá uma olhadinha nos projetos de lei da onipresente Vereadora Leila do Flamengo:

. Projeto de Lei n.º 1245/2007: FICA INSTITUÍDO O DIA 10 DE JULHO COMO O DIA MUNICIPAL DO FRESCOBOL
. Projeto de Lei Nº 1562-A/2003: AUTORIZA O PODER EXECUTIVO A IMPLANTAR O PROJETO “PARIS ESTÁ NA GLÓRIA”
. Projeto de Lei 1378/2003: AUTORIZA O PODER EXECUTIVO A CELEBRAR, ACORDO COM A UNIÃO, PARA QUE AERONAVES COMERCIAIS TOQUEM A MÚSICA DENOMINADA ” SAMBA DO AVIÃO “, DE AUTORIA DE ANTONIO CARLOS JOBIM, QUANDO ESTIVEREM SOBREVOANDO A CIDADE DO RIO DE JANEIRO
. Projeto de Lei 1709/2003: INSTITUI A SEMANA DO JOVEM NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
. Projeto de Lei 1998/2004: TOMBA O NOME DA AGREMIAÇÃO RECREATIVISTA ESCOLA DE SAMBA VIZINHA FALADEIRA

Parece brincadeira mas não é. Pode checar neste site para consultas aos projetos da Câmara Municipal. É só selecionar o nome dela e conferir.

Sob medida

É um sinal dos tempos. Depois do personal trainer e do personal stylish, agora no Rio você também pode ter um:

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Anúncio veiculado no caderno “Boa chance” do jornal O Globo de ontem.

Acho graça de graça da desgraça

As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundície de todo sexo e matanças vai espumar até a cintura e os políticos e as putas vão olhar para cima gritando ‘salve-nos’… E eu vou olhar para baixo e dizer ‘NÃO’.

Alan Moore

Naquela época, eu esperava pelo metrô com as mãos suadas de água fria, olhando para trás com medo que alguém me empurrasse. Síndrome do que você quiser, meu caro. Do pânico, do terror, da ansiedade, distúrbio, déficit de atenção, a porra toda que você quiser. Eu só quero dizer que por 2 segundos eu jurava que alguém ia me empurrar e morreria ali, estraçalhada pelo vagão que não teria tempo de frear. Estou sem direção e ainda nem cheguei ao ponto. Culpa dos dedos mindinhos, não me obedecem, esses putos desgraçados. Boa essa palavra: puto. ÉS UM PUTO, queria dizer para algum homem. Qualquer um, pode ser meu pai até, meu tio que tem a voz engraçada, você… Um puto, um puto. Como de costume, estava na frente de todos, para poder entrar antes e ter mais opções – ou não, de escolher um lugar para sentar – ou não. Eram 17 horas da tarde, as chances não eram tão boas, mas vai saber, sou rainha das sortes inacreditáveis, a vida gosta de mim embora eu a maltrate um bocado. Entrei no vagão após medo ensurdecedor de ser empurrada, e para minha não compreensão de vida, senti que haviam muitas pessoas aglomeradas na área da minha porta, e à nossa esquerda, o vagão estava vazio. Nessa época eu vivia gripada, era usuária voraz de sorine, mas ainda assim, quando as portas fecharam, senti um grande cheiro de merda se alastrando com força pelo vagão. As pessoas, as pessoas, as pessoas, quantas vezes posso repetir que AS PESSSOAS, elas falavam coisas, mas meu medo de ser empurrada me faz pingar água das mãos e me deixa surda, é preciso esclarecer isso. E isso dura. Isso dura minutos. Então, as pessoas faziam elucubrações e eu não ouvia nada. Só sentia um insuportável cheiro de merda. Curiosa que sempre fui, me movimentei em direção à tal parte vazia do metrô, afinal o quê poderia estar acontecendo? E é porque sou feita de carne, ossos, sangue, merda e amor, é que quase tive um filho tamanha vontade de expelir qualquer coisa bonita que apaziguasse meu choque. O que eu vi foi um homem de terno, sentado no chão, todo cagado. Sim. Um homem na merda. Literalmente. Chorando feito criança, meu caro, meu barato. Chorando de soluçar e tremer ombros, minha cara. Minha barata. Mas as pessoas, as pessoas, as pessoas, quantas vezes eu posso repetir que as pessoas, elas estavam num zoológico, e muito espantadas faziam comentários, que agora já podia ouvir, sem o menor cabimento. A maioria, obviamente, ignorava, constrangida com o constrangimento alheio e cheirando o pulso borrifado com perfume às 8 da manhã para aliviar o terror do cheiro da merda. O homem cagado, talvez sem querer, um problema, um azar, característica das sacanagens que deus pode nos proporcionar, um peido falso, uma infecção intestinal, uma merda, uma merda mesmo. O homem de terno, bonito, eu até diria se ele um dia passasse por mim na rua e me olhasse dentro do olho e não para o meu peito. Cagado. E chorando. Naquela época eu era otimista que só, e não me conformava em ver gente na merda sem tentar sair dela. É terrível, mas não é metafórico, o que torna tudo mais cruel. O homem ali na merda própria, merda marrom, meio aguada, um cheiro que me deixava a um segundo de vomitar meu almoço infeliz com meu ex-marido. Naquela época, as crianças moravam com ele, o que todo mundo achava muito estranho, mas eu preciso confessar que eu gostava muito, Jaime sempre foi um ótimo pai. E eu, uma mãe mediana. Me aproximei do homem cagado e choroso como quem se prepara para cutucar uma espinha que já causa vergonha de sair de casa. Sabemos que não devemos, mas cutucamos. Ah, cutucamos. Porque somos putos, putos, putos. Uns putos. Não devia, pois minha vida já é bem caótica, mas era tudo tão feio, tão horroroso, era tanta merda, que era tudo lindo por demais, beleza de salivar e aumentar o tamanho do coração de uma mão fechada para todo o tronco humano. Caminhei até ele, e as pessoas ficaram chocadas com a louca que entrou na jaula do leão, da onça, do hipopótamo. Mas as pessoas são curiosas, não querem que a pessoa vá, mas já que a pessoa está indo, ora… vamos ficar aqui e observar, só um pouquinho? Vamos, ué. Eu ficaria, Jaime ficaria, as crianças ficariam, todos nós, os putos. Ficariam. Observando. Estava solteira há tempos, o amor nunca chegava até a mim, fazia sérias propagações mas nunca o sentia, de fato, na fibra dos meus dedos. E era o que eu queria. Amor na fibra dos dedos. E isso lá existe? Era o que eu queria. O homem ainda chorando e eu nessa época, tinha lenços de papéis na bolsa, achei sofrido demais. Constrangedor demais. Queria ser certeira, queria tirar toda a merda, sem ter que passar 75 paninhos molhados e essências e incensos e isso aquilo outro. Agachei, agora já pouco incomodada com o cheiro da merda – afinal, o que era a vida, o metrô, o cu dos meus filhos, o beco da minha rua, a boca de meu ex marido? – ele percebeu um corpo estranho próximo ao dele, parou de chorar e esperou por aquilo que também eu esperava: minhas palavras. Achei de bom grado, dizer-lhe: Quer namorar comigo? Eu era a criança que os lobos criaram, não tem essa história? O zoológico, as pessoas, que acompanhavam tudo pois assim é a vida, fizeram silêncio criador de cancros, de úlceras, provocadores de aneurismas, esse era o silêncio. Pois não concebiam o amor vindo da merda. Mas eu era tão cheia de vida, e tudo me parecia tão sincero e real e certo. O homem sorriu dentes que o faziam ser mais bonito e disse entre babas de lágrimas: “Perdi minha estação”.
“Pra tudo, há voltas”, lhe disse com sorriso de quem sua frio nas mãos. Dei-lhe um beijo no olho esquerdo e depois comentei com amor nas fibras dos dedos: merda é adubo.

O cão chupando manga

Agora minha casa está mais segura. Comprei um scooby doo para fazer a guarda do lar. Foi paixão à primeira vista. Voltando do trabalho, no trânsito infernal da Lagoa-Barra, avistei-o de longe, pendurado numa árvore. Imaginem um cachorro voador. Que maravilha. O sinal ficou verde, tive que ir. Não deu para levar o bichinho, mas aquilo ficou na minha cabeça. Na oportunidade seguinte, em pleno festejo junino, no furdunço da feira de São Cristóvão, lá ía ele passando distante. Em meio a homens-aranhas, bobs-esponjas e outros fofos, ele flutuava se destacando na multidão. Interrompi a dança e – eeeeeeeeei – corri atrás. Você agora é meu, Scooby. Voltei do forró feliz, com meu cachorrinho debaixo do braço. Bem que disseram que um cão dá mais vida a uma casa. E eu que pensei que nem gostava de animais de estimação.

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Marcha da Maconha

Em 2002, recebi isso:

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E lá fui eu, com amigos e ex-namorado ver “qual era”. O que vi foi bem constrangedor: jovens caminhando pelas Visconde Pirajá, cantando “Sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor…”
Não que fosse necessário alguém tomar as rédeas da situação e se pronunciar, mas se tornou algo tão aleatório.
Um assunto tão polêmico, e que precisa ser discutido mais de mil vezes, se tornou uma caminhada banal pelas ruas de Ipanema. As pessoas nos olhavam e faziam gestos de desapontamento, e muitos da marcha gritavam: “Ah, o quê que foi? Tem que legalizar mesmo essa porra, velhinha!”

Resultado: saí de lá com um péssima impressão de que muitos seres humanos não sabem fazer uso de uma erva natural.
E a maioria dos seres, quase nunca sabe o que realmente está dizendo.

“Don’t wanna a short zig man” – Lembram dessa música? E todos gritavam isso na pista, mas ninguém sabia o que estava cantando.
Ora, por favor.

Daí que no dia seguinte, meu pai veio me perguntar:
– Onde você estava ontem?
– Em Ipanema, num showzinho lá…
– Sei… Letícia, tem uma foto na contra-capa do Globo, que você aparece numa marcha pró-maconha.
– Ah é?
– É.
– Se sua vó vê isso, ela tem um infarte.
– Foi mal, coroa.

A foto da contra capa.
A foto já tá velha e má escaneada (ui), mas eu tinha um brinco de girassol que vivia com ele, e assim apareci na contra capa do globo, para delírio de alguns amigos e desespero dos meus pais.

Esse ano teve marcha, não pude ir, estava em São Paulo (aliás, JAMAIS moraria em Sãpa, deus pai, que cidade cansativa. pra passear, tudo bem, morar? affff). Li algumas matérias sobre a marcha, e pelo que li, esse ano foi um pouco mais interessante. Munido de faixas, camisetas e um discurso afinado contra a atual política de repressão às drogas, manifestantes das mais diversas idades concentraram-se na orla carioca e seguiram, aos gritos de “tem que liberar a maconha pra plantar”, em direção a Ipanema, onde o ato foi finalizado na areia da praia, em frente ao posto 9.

Seria, de fato, maravilhoso poder plantar e parar de ter contato com criminosos e ainda por cima fumar coisa estragada.

O deputado estadual e secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, afirmou que é favorável à regulamentação da venda de maconha e participou do ato. “Eu acho que o Rio de Janeiro é uma cidade sitiada pelo tráfico de drogas e de armas e isso não se resolve com a atual política de drogas, que fortalece o traficante. O maior interessado em manter a política de drogas como ela é hoje é o traficante e o lado corrupto da polícia”, disse Minc.

Adoro.

As partes em itálico são do site do Terra.

Música: The Observers – Pass the pipe

Desculpa a falta de posts, sô sem tesão no Rio de Janeiro.
Daí, já viu…

“As meninas” sou eu

Precisava de uma calça branca. Ou clara. Para uma peça que vou estrear semana que vem, depois faço a propaganda, uh. Fui ao shopping do meu bairro. Uh². Estive em uma loja, que agora esqueci o nome, onde observei a crueldade. Loja de roupas femininas, bem ampla. As vendedoras se encaixavam dentro do padrão de beleza brasileira: TODAS com cabelo pintado, luzes ou ruivas ou preto-petróleo (lisos, ÓBVIO), corpo malhado, maquiagem agressiva. Dentro da loja há um sobrado, que é o estoque, onde mulheres negras (todas eram) e com cabelo enrolado ou extremamente alisado, trabalham. As vendedoras atendem com sorrisos cansativos, falam os próprios nomes e “se precisar de alguma coisa…” Precisava de uma calça, vi uma e pedi para Bianca no meu tamanho. Bianca vai para debaixo do tal “sobrado” e grita: “Meninaaaaas, meninaaaas, calça tal tal tal, tamanho tal tal tal.”. Percebo então que todas as outras vendedoras gritam o tal: “Meninas, meniiiinas”. Nenhuma sabe o nome das tais meninas do estoque. No entanto, na hora de jogar a mercadoria, as meninas diziam: “Bianca, toma a calça”. Olhei para cima, e as “meninas” não tinham muitos sorrisos. Um espaço apertado, um trabalho ingrato e um salário bem menor. Achei tudo tão esquisito que saí da loja e claro, carreguei uma sensação de culpa e de crueldade burguesa. E quando engulo esses sapos de terceiros, eles se materializam. Sempre. Entrei na Sandpiper e vi uma calça. Pedi ao vendedor quase bonito o meu tamanho. Não tinha, ele insistiu que eu experimentasse outro tamanho, pois a modelagem era grande. Experimentei contrariada, e constatei obviamente que a calça ficava pescando siri. Estava de vestido, pois só vou comprar calça de vestido, para agilizar a vida. Entreguei a calça ao vendedor, constatando que de fato, ela não era capaz de cobrir minhas longas pernas. Dei tchau e fui saindo pela loja, senti que minha calcinha estava “encravada” no rego, e quando fui ajeitá-la: TERROR. Não coloquei meu vestido direito, de modo que metade da minha bunda estava para fora, para todos os vendedores descolaaaaados da Sandpiper avaliarem e rirem. Fiquei tão nervosa que ainda demorei longos 10 segundos para tirar o vestido preso da calcinha, para voltar a cumprir sua função: cobrir meu corpo. Tive espamos de vergonha, fiquei vermelha durante uns 10 minutos e em casa, à noite, lavando a louça, quase quebrei copos pois toda hora a imagem me voltava à cabeça. Preciso parar com isso. Uh³.

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