Cinema versus Copacabana
“Pra quê? Isto aqui é melhor que xinema!” – Seu Francisco, sócio da Adega Pérola, apontando para o balcão do bar no dia em que eu perguntei se ele gostava de ir ao cinema em suas folgas de domingo.
Acabo de assistir ao filme “Babel” no Cine Roxy, aqui em Copacabana, o metro quadrado com mais gente idosa do Sistema Solar. E na sessão das 15h10, a preferida dos velhinhos.
Terminado o bom drama do mexicano Alejandro González-Iñárritu, uma senhora encara a subida dos créditos em pé, no corredor lateral da sala, e fala, com o rosto sério: “Forte o filme!” Ela não foi a única a sentir a história.
Corta a cena rápido (como gosta o Iñarritu), e já estamos na rua, na saída do cinema, com o dia ainda claro. Um homem de jaleco branco está sentado numa banquinha na esquina oposta à do cinema. Serviço oferecido: verificação de pressão sangüínea. Vi pelo menos duas senhoras (dessas velhinhas que andam em dupla, apoiando-se mutuamente) desgarrando-se da manada pós-“Babel” para sentar e fazer o exame.
Vou tentar não ser leviano no meu relato: não tenho certeza se esse enfermeiro está sempre lá. Eu, pelo menos, nunca o notei. Mas a conclusão a que chego diante da equação Copacabana + cinema à tarde + Babel = velhinhos angustiados, é que ele vai ter um bocado de trabalho nessa temporada de filmes dramáticos concorrendo ao Oscar. Pelo menos depois da matinê da terceira idade no Cine Roxy.