Archive for the ‘Na rua’ Category

Sândalo du Loren

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Na Feira da Glória, o incenso é 1 real.

O sutiã, eu não sei.

Multada por causa da natureza

Sei onde estão a maioria dos radares de velocidade dessa cidade. Uma vez esqueci de um a caminho do Recreio, e PÁ, um flash fotográfico me assustou. Mas foi só essa vez. Em fevereiro do ano passado, recebi uma multa, que quase virou poema, ou música. A multa dizia que minha infração era: dirigir com uma mão no volante, e a outra pra fora da janela. Adivinha onde. Na Vieira Souto. Sim na orla. A rua do mar. Agora, vamos recapitular: era fevereiro. Eu lembro pois era um calor suado, e eu estava achando o ano bem aleatório, mas uma excitação carnavalesca começava a ganhar espaço no meu coração. Talvez eu não tivesse muita gasolina para poder ligar o ar condicionado, e as cores do céu me deixavam confusa, e a cidade me abraçava, e eu tenho tesão no vento. Então abri o vidro às 17 horas de algum dia de fevereiro, e coloquei meu braço de polvo pra fora da janela. Em abril, mês que sempre rezo para desaparecer, a multa chegou. E lá fui eu, pela primeira vez na vida, recorrer a uma multa, no Detran. Pensei em escrever coisas lindas, poéticas e inéditas na folha do Detran. Imaginei a cara do funcionário lendo. Mas a fila estava enorme, eu estava atrasada, um homem espirrava muito perto de mim, acabei escrevendo algo do gênero: “Um bicho havia entrado no carro, e eu estava com a mão pra fora tentando tirá-lo no exato momento que algum guarda devia estar olhando para o meu carro, blablablablabla, foram apenas alguns segundos que de maneira alguma prejudicaram minha direção, blablablabla…” Adivinha se eu consegui. Claro que não. Pedido recusado. Até hoje ainda coloco o braço pra fora. Na orla, nas Paineiras, em frente ao Jardim Botânico. Não gosto de ar condicionado, gosto de vento.

Qual foi a multa mais absurda que você já ganhou nessa cidade? Você ou o amigo da cunhada da sua prima, aquela coisa…

Sex and the Citycol: as cantadas mais baratas da cidade # 1

– Aí, de amarelo: tu é isso tudo mermo?

Pivete sentado na porta de uma loja em Copacabana para uma popozuda de vestido amarelo qua passava com a amiga.

Genial o tom desafiador do cara, é como se ele dissesse “Duvido que tu seja gostosa assim, garota! Me prova, me prova!!”, na esperança de que ela caísse na pilha… e provasse! É aquilo: toda cantada é mandada com um roteiro pronto na cabeça do cantador. Ele faz assim porque acha que a reação dela será assado e no fim ele terá o controle de tudo. Mas nem sempre as coisas saem como a gente quer, né?

“Ah, eu nessas carne…”

Este post é uma homenagem a essa belíssima expressão linguística do macho carioca para designar seu desejo em relação a uma fêmea-pedestre.

Fêmea-pedestre, eu explico, é a melhor de todas as mulheres, amigo. Aquela que vem e que passa, no doce balanço – como bem sacou o Poeta – e que em seu rastro deixa toda uma Via Láctea de possibilidades, do amor à volúpia.

Então, my friend, se passar pelo Rio e uma dessas aí passar pelo teu caminho, exercita teu direito, mesmo que em pensamento: “Ah, eu nessas carne…”, diz contigo – e enrola a ponta do teu bigode imaginário.

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Rua da Alfândega, no Centro. Na bela paisagem, vemos o Centro de Lazer 502 (ou puteiro, in english) e a churrascaria Alfândega Grill. Os dois estabelecimentos coladinhos. Os dois cheios na hora do almoço. Porque é das carnita que o povo gosta.

Esta é uma história verdadeira

Hoje de manhã, na minha rua, eu vi uma mulher levando um galo pra passear preso numa coleira.

Onde eu moro? Em Copacabana.

Da série: recomendações da semana

Eu tenho medo do Botafogo Praia Shopping. Primeiro porque uma vez quase vomitei no estacionamento de sete andares. O carro fazendo a curva sete vezes para o mesmo lado, e eu abrindo o vidro desesperada. Segundo, porque não entendo a organização do shopping. As escadas são posicionadas de maneira bizarra. Sempre me perco. Sempre. Há algum tempo estava curiosa com um quiosque de massagem que tem logo no primeiro andar. Pensei com os meus botões: “Há quanto tempo não recebo uma massagem…” Resolvi me dar de presente 15 minutos de massagem na “Ilha da Massagem”. É esse o nome do quiosque. Rolam três cadeiras especiais. Duas estavam ocupadas por homens que me pareciam estar bem entregues. Rola também um fone de ouvido para você se desligar dos barulhos do shopping. Isso foi meio difícil, porque por mais que eu estivesse ouvindo um piano nos meus ouvidos, vez ou outra ouvia um grito de “manhêêê”. Mas tudo bem, tudo ótimo, tudo beleza. Porque um homem tocava minha longa lombar. A massagem de 15 minutos custou 18 reais. Com direito a massagem nas costas inteira e escolha de massagem na cabeça ou nos braços. Eu, com muitos problemas na cabeça, escolhi a cabeça, lógico. Eu babei. Eu hibernei. Esqueci que estava no shopping. Esqueci que pessoas curiosas estariam vendo. Esqueci de mim. E o homem lá, em pleno Botafogo Praia Shopping tirando meus nós. Maravilha, minha gente, maravilha. Eles também fazem massagem de 30 minutos que inclui pés, panturrilhas e braços. Esqueci de perguntar o preço dessa de 30 minutos, mas certamente voltarei lá um dia para meia hora no oásis.

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“Coisa boa a gente gosta”

OBS: A única coisa que não gostei muito é que num certo momento a música do fone foi a “Ave Maria”. Nada contra, mas eu só queria música instrumental mesmo, sabe? As letras já me fazem prestar mais atenção, e eu queria me desligar. Esqueci de perguntar para o cara se rola de levar a própria trilha.

In English here.

De brincadeira

Botafogo, terça-feira, 23h15. A rua Pinheiro Guimarães está deserta, pra variar. Do carro onde estou, vejo um cara de bicicleta, grandão, sem camisa e de boné, descendo a rua. Ele estica o braço, faz uma pistola com a mão e a aponta para um homem que sobe, a pé, entre as sombras. A sorte da sincronia possibilita que o carro passe ao lado da cena no instante de eu poder ouvir: POW! POW! POW!, berra o ciclista pro pedestre, que dá uma congelada, arrastando o ombro no muro com o susto. Três tirambaços. De brincadeira.

Meu coração bate feliz quando te vê

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Estátua do Pixinguinha na Travessa do Ouvidor, um dos trechos mais bacanas do Centro do Rio (ajusta aí o GPS: fica entre as ruas do Ouvidor e Sete de Setembro, no trecho entre a Avenida Rio Branco e a rua Primeiro de Março).

Lá tem restaurantes: dois japoneses, o essencial Esquimó e uma versão mais ajeitadinha dele, chamada Escalada, além de uma pensão boa e baratíssima, com comida caseira, que fica em cima do Esquimó (no trabalho a gente chama a pensão de Baratinho); livrarias, inclusive a ótima Livraria da Travessa; cartório, termas, loja de suplemento alimentar, de CDs e uma Laranjada Americana, aquela que a gente bebe no cone de papel.

O Pixinga tá lá soprando um choro porque na Travessa ficava o Bar Gouveia, a uisqueria freqüentada por ele, e que acabou virando uma espécie de escritório do músico. No Bar Gouveia ele tinha copo, cadeira e mesa cativos, encontrava os amigos, dava entevistas, acertava parcerias.

A uisqueria não existe mais, no lugar dela há um edifício, onde no ano passado inauguraram um painel sinalizando o lugar histórico – hábito bom lá de fora que a gente deveria incorporar cada vez mais – e que reúne as caricaturas do mais ilustre freqüentador e de outros não menos essenciais da nossa música, como Braguinha e Nelson Sargento.

A inestimável contribuição carioca à gastronomia mundial.

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Os cariocas são um povo criativo — mas que fala alto, é preguiçoso, vagabundo, inculto e tem mau-gosto musical, gastronômico e vestuário, segundo alguns — e o fato é que criaram, há algum tempo atrás, a seguinte receita de sanduíche: duas fatias de pão, uma série de produtos que variam — ervilha, queijo parmesão, ovo de codorna, farofa, carne assada, sardinha, molho à campanha, etc — e ao menos uma fatia de queijo (cheese). De acordo com a composição do sanduíche chamavam-no de cheese-alguma coisa. Ou seja, uma salada de ovo com queijo batisaria o sanduba como cheese-salada-de-ovo.

A evolução deste conceito linguístico-culinário atingiu seu paroxismo com o advento do sanduíche-coringa, o sanduíche multi-funcional, aquele que além do queijo traria todos (?!) os componentes presentes na barraquinha do ambulante. Este sanduba ganhou a alcunha de cheese-tudo.

Comer um cheese-tudo não é para iniciados. Ele exige estômago, desapego à razão, perícia motora e sobretudo muita coragem. Os mais famosos cheese-tudos do Rio estão nas imediações do Estádio do Maracanã em dias de jogos, ou nas proximidades da Rodoviária Novo Rio. Entretanto este blog não aconselha aos incautos a assistir a um jogo de futebol e menos ainda, a viajar de ônibus — sobretudo se você for pra Bahia — depois de comer um cheese-tudo.

Curiosamente, como em português a letra X — de xenófobo — tem pronúncia próxima a de cheese em inglês, nossos gourmets de rua abreviaram e simplicaram o nome desses sanduiches, passando a ser reconhecidos por X-tudo. Isto agilizaria a escrita e a leitura dos cartazes e dos pedidos. Apesar da referência inglesa (cheese) esta denominação dos produtos não faz parte dos cardápios das redes globais de lanchonetes e nem das fast-foods chiques. Talvez por simples preconceito ou talvez pelo fato de que, em contra-partida, a leitura inglesa de X (Écs) refere-se a alguma coisa que já foi, mas não é mais, o que poderia levar a algum consumidor gringo ou gringolizado a pensar que os ingredientes do sanduiche são do mês passado.

O Baralho do Mensalão

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Só saiu aos 45 do segundo tempo, mas essa campanha eleitoral sem graça já tem algo para ficar na história: pareceu no começo desta semana nos camelôs do Centro o Baralho do Mensalão, onde “cada carta é um ladrão!”, como anuncia o vendedor. Estão todos lá: Marcos Valério, José Dirceu, Duda Mendonça, Roberto Jefferson, Delúbio Soares, Severino Cavalcanti e outros culpados, suspeitos ou envolvidos no mar de lama do Mensalão e esquemas afins que fizeram a festa dos jornais no último ano. O presidente Lula, candidato ao segundo mandato praticamente eleito, segundo todas as pesquisas, abre o baralho: ele um ás de paus. Acabei de comprar o meu por R$ 5 (com o troco, pensei em comprar um deputado).

Além das fotos dos “homenageados”, há um pequeno texto explicando a participação deles nos escândalos. Cada biografia pior que a outra. Vou falar com o Nix, que cria e adapta jogos, para elaborar um Supertrunfo inspirado nas cartinhas:

– Toninho Barcelona: capacidade de lavar dinheiro: 70!!
– Ah, se ferrou: o meu é o Marcos Valério!! SUPERTRUNFOOOO!!!!

(Detalhe: os dois coringas são O Povo – ilustrado com uma imagem aérea de um protesto na Esplanada dos Ministérios, em Brasília – e o Próximo Presidente, acompanhado por um apelo pelo voto consciente. Nas regras impressas na caixa, o alerta: “Não vale roubar! Siga as regras do jogo, ou a próxima carta do jogo pode ser você…”)

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