Archive for the ‘Pessoas’ Category

Chega de saudade!

No último domingo, João Gilberto se apresentou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro depois de 14 anos de ausência.
Ele foi simpático todo o tempo. Ele sorriu, estimulou a platéia a cantar com ele e, ao final, disse: “Eu estou com um problema. Não quero ir embora.”
Os cariocas agora desafiam os novaiorquinos a conseguirem alguma coisa parecida com, vamos dizer: Keith Jarrett!

[Trying to translate with a little help of my Google]

Enough of nostalgia!

Last Sunday, João Gilberto performed in the Teatro Municipal in Rio de Janeiro after 14 years of absence.
He was nice all the time. He smiled, encouraged the audience to sing with him and at the end, he said: “I’m with a problem. I do not want to go away.”
Cariocas now challenge newyorkers to achieve something like that with, say: Keith Jarrett!

Irashai mase!(*)

O Rio é uma cidade que precisa ser vista.

Ver o Rio é ver sua beleza, mas também o que falta e o que está sobrando para que ela seja também uma cidade agradável de se viver ou de se passear.

Época de eleições municipais, as campanhas bombando nas ruas, é a época ideal para se discutir isso.

O jornal O Globo de domingo, 17/08/08, publica, na pág. 8, na série O Rio da Gente, sob o título “Um olhar estrangeiro”, um artigo do empresário japonês Todd Takahashi, que mora no Rio de Janeiro há onze meses e é gentil com a cidade.

No entanto, ele admite que sente saudades de Tóquio sempre que tenta:

    1. Usar o sistema de transportes públicos. Não é fácil trabalhar no Rio se você mora longe do local de trabalho. O sistema é… Bem, para também ser gentil, não chega a ser propriamente um sistema.

    2. Andar de bicicleta pela cidade. As ciclovias são precárias e não são integradas. O governador do Estado do Rio de Janeiro parece estar inteiramente de acordo com o senhor Takahashi, ao menos neste ponto. As últimas vezes em que foi visto sobre uma bicicleta, Sua Excelência se encontrava em Paris ou em Berlim.

    3. Caminhar com tranqüilidade pelas ruas. Há dias melhores que os outros. Há lugares mais ou menos piores do que outros. Mas, se você precisar da ajuda de um policial, provavelmente vai ter dificuldades de encontrar um e, quando encontrar, provavelmente vai precisar lidar com um profissional mal pago, mal treinado e muitas vezes com má vontade.

A empresária e historiadora Sueli Gama, que mora no Rio há dezessete anos, além dos pontos positivos que ela também ressalta, na mesma série, na pág. 3 da edição de 18/08/08 de O Globo, em artigo intitulado “Vamos sair ao sol”, acrescenta mais um problema que precisa ser resolvido quando se quer:

    4. Caminhar pelas calçadas e pontos históricos do Rio. Acaba por se tornar um passeio desagradável, devido à sujeira e à má conservação dos prédios antigos (além da já mencionada falta de segurança). Limpeza e saneamento podem melhorar em muito a imagem que os turistas e o próprio carioca tem de sua cidade.

Há outros problemas. Todos precisam ser atacados. A experiência de outras cidades no mundo inteiro, no entanto, revelam que a solução de todos estes problemas é possível em curto prazo e pode ser, se não mais barata, certamente muito mais rentável do que a propaganda oficial que é feita para encobrir a falta de consideração dos responsáveis para com a população.

(*) Bem-vindo, em japonês (eu li em várias páginas por aí).

Japão – Brasil – Japão

A carioca Joyce, compositora, cantora e embaixadora honoris causa da música do Brasil no Japão e no mundo, em seu delicioso blog outras bossas conta, em três posts, seu encontro no Rio de Janeiro com o príncipe Naruhito, segundo ela a simpatia em pessoa, durante o show no Teatro Municipal que homenageou o visitante em sua recente viagem ao Brasil pela comemoração dos cem anos da migração japonesa para o Brasil.

Vale ler e guardar com carinho:

  • eu e o Japão, Japão e eu
  • o príncipe
  • fotos prometidas
  • Se você não visitou o site da Joyce, vale a pena. Além de ouvir um pouco do que ela tem para mostrar, vai ver que ela está com a agenda cheia. Em agosto, Alborg (Dinamarca) e Rio. Em setembro, Yokohama e Tóquio (Japão). Em novembro, Madri, para o Madrid Jazz Festival (só encontrei o link para o festival do ano passado). A turnê européia de 2009 começa por Vantaa, na Finlândia, em março.

    Rio de Janeiro, século XXI

    Não se pode jogar.

    Não se pode fumar.

    Não se pode beber.

    Comer, só se for uma saladinha orgânica.

    Daqui a pouco a reprodução humana se dará exclusivamente por meio de inseminação artificial.

    Ao menos, como talvez lembrasse o Tim Maia, ainda se pode mentir um pouco.

    Ho-Ho-Ho!

    O moleque experimenta o boné e a mãe diz que está lindo mas que vai estragar o topete. Ele tem aquele cabelo liso esticado para cima, com laquê. Vou ao banheiro e vejo um senhor esticando o cabelo enrolado para baixo, com água. Quem reclama de calor não pode reclamar de chuva… Ele concorda comigo e fala que não reclama de nada. Tem 60 anos, saúde boa, é motorista de caminhão e já dirigiu por quatro países na América do Sul. A vendedora da loja de camisetas, caríssimas, é linda e me chama de querido. Eu pensei que ela estava ali porque vai viajar pro Nordeste, no Carnaval. O vendedor na outra loja usa terno, caminha muito rápido e dá umas freadas súbitas com seus sapatos finos, provocando umas derrapadinhas, sonoras, espetaculosas e meio viadas. Em outro canto, duas meninas conversam sobre as maravilhas do Lexotan. Dois negões com sotaque africano me perguntam onde fica a Lacoste. Descubro a calça Coca-Cola. Um jovem cego entra no ônibus e esbarra em mim. Pra onde você vai? Lineu de Paula Machado. Eu te aviso quando saltar. Fala ao celular e eu fico sabendo que o cego vai para um amigo oculto. O passageiro à frente mete a cara na janela e grita pruns caras no bar ao lado da Botafoguense Malas. Ô Jair! Ô Jair! Ô Mendonça! Ô Mendonça! Vai trabalhar! Jair não olha e Mendonça caga. Tá chovendo pra caralho. O cara vira pra mim e diz que vai zoar o Mendonça amanhã. Vira outra vez e fala mais baixo agora: tem um ceguinho sacana que frequenta aquele bar ali, ha-ha-ha!

    Tem coisas que só acontecem em Botafogo

    bib.jpgSão Clemente pré-natalina, hora do rush, garantia de trânsito engarrafado. A menina sentada ao meu lado saca um livreto da bolsa e começa a leitura. Olho curioso e vejo o acabamento dourado nas bordas das páginas. É claro que é mas, entediado, pergunto o óbvio: é a Bíblia o que você está lendo? Sim! Ah… legal. Prossigo com a carioquice e entabulo uma conversa de doido. Pois é… a despeito das questões religiosas é uma ótima leitura… personagens interessantes… passagens insólitas, essas histórias dos milagres… Sim, responde ela. Arrisco dizer que é bom pra se ler como se fosse um livro normal, mesmo. Mas não, discorda a moça, tem que ler aos poucos… eu leio um ou dois capítulos e paro para refletir… Certo, eu entendo, mas é que eu não sou religioso então vejo mais a parte da literatura, sabe? Você sabia que os livros nasceram da necessidade de se popularizar os ensinamentos religiosos? A famosa Bíblia de Gutenberg foi o primeiro livro da humanidade, a primeira obra impressa, isso há mais de 500 anos… Não, não sabia, mas tem que ler acreditando… e quem lê se salva mas quem não lê vai queimar no fogo do inferno! He-he! Há controvérsias… Emendo com outra pergunta idiota: você frequenta alguma igreja? Sim! Ahã… Ela explica que mais de três quartos da Bíblia correspondem ao Velho Testamento, depois separa e mostra as páginas respectivas ao Velho e ao Novo Testamento. Entendi. Tem aí o Livro de Jó? Perguntei. Tem sim, aqui ó… vai lá e me aponta a parte de Jó. É bom pra ler nesses engarrafamentos! Arremato com uma risadinha. Ela sorri e diz que Jó era um homem bom que foi testado por Deus. Um homem que perdeu em um dia tudo o que tinha! Todos os filhos, todas as posses… Ficou gravemente doente e até a própria mulher o abandonou… Caraca, que merda! murmurei. Mais à vontade, ela contou que além disso os amigos de Jó o abandonaram e ele ficou à mercê do diabo… que assim o tentava para que ele abandonasse a sua fé em Deus. Considerando o trânsito e o ônibus lotado, àquela altura da narrativa eu já estava bem desanimado… Mas ele perseverou e conseguiu vencer o demônio! Ah, muito bom, não é? Sorri pra ela, agora mais contente, sobretudo porque avistei o Largo dos Leões à frente. Resolvi saltar naquela praça onde começou a história do Glorioso alvinegro, bem perto do antigo terreno onde meu avô jogou, participando ainda menino da primeira vitória na história do Botafogo, contra o Petropolitano. Boa sorte, desejei à ela. Vai com Deus, retribuiu a simpática e crente morena. Desci do ônibus pensando que se Jó resistiu a tanto porque nós, botafoguenses, não poderemos resistir a essa desgraceira de 2007?

    A massagista

    É, todos os dias, em horas variadas, vou até a janela do meu escritório na Praça Saens Pena olhar se a massagista está trabalhando. Ela trabalha em casa e atende todas as clientes na sua sala, clientes de todos os tipos, na mesinha especial de massagem e sempre espero ter a sorte de poder presenciar a massagem de uma gatinha. Quem me dera poder ganhar a vida massageando mulheres o dia inteiro… Mas que mulher pagaria para um homem safado esfregá-las durante uma hora? Hum… Pode ser que haja um público, mas certamente não o das gatinhas! Então foi isso. Estava eu hoje de volta a minha rotina. Escritório fechado, ar-condicionado ligado, trabalho entediante. Volta e meia, ia até a janela. Bingo! Olhei no relógio e marcava três da tarde. O barulho da praça parecia irrelevante, já que de janela fechada, tudo o que se escuta são as vozes do escritório e os dedos digitando. Mas ela chegou, tirou a roupa e se deitou na maca. Não pude ficar uma hora inteira parado na janela, nem queria que outros colegas descobrissem meu segredo… Mas volta e meia ia até lá, observar, como se estivesse pensando na próxima grande idéia que precisávamos no escritório. Será que elas não sabem que daqui dá pra ver? E que provavelmente outros tarados de outros andares também observam? Quantos homens abaixo e acima de mim estão, exatamente, nesta mesma posição que eu, sonhando com esse momento?

    Não demorou muito, após quinze minutos de massagem nas duas coxas da moça, uma pausa para o banheiro. Depois fui pegar um café, mexi em uns papéis só para disfarçar e voltei à janela. Ainda estavam lá… Agora ela estava de bruços! Ao mesmo tempo em que lamentei já ter ido ao banheiro, dei graças a deus. Mas acho que vou ter que voltar… Uma mulher esfregando as costas da outra é demais para a cabeça de qualquer homem da minha idade, com a vida medíocre que eu carrego nas costas. Qualquer janela indiscreta dessas é diversão garantida; fantasia que vai me movimentar durante semanas! Ai, meu deus, como sou patético, eu me causo nojo, mas fazer o que… Preciso conviver comigo mesmo… Alguém me chamou… Merda. Logo agora!

    Não me dei por satisfeito. Amanhã continuarei espiando, quero saber quem são as clientes. Elas estão ficando cada vez mais atraentes.

    Stills

    O ônibus vai partir. Dois senhores e uma moça trocam bons modos na entrada do veículo: Por favor, entre você. Não, por favor, entre o senhor. Não, pode ir! Por favor… Não, entre você. Não, pode entrar! (…)

    O cara grandão vem de boné branco, tênis e meia, camiseta branca com propaganda da Petrobrás — cobrindo o barrigão — pra dentro da bermuda azul bebê. Caminha arrastando os pés, sugando um canudinho numa lata de guaraná… Passa, me olha de sobrolho com perfeita cara de maluco e diz: A mulher mandou nimbora, tem que nim íh… Num tem mais jeito não…

    A jovem mãe de mochila às costas cruza a praça empurrando com a mão direita um carrinho com um bebê… a mão esquerda é dada a um menino de uns sete anos. Eles vem em silêncio olhando à frente. Passam por mim. O garotinho vira pra mãe e diz tão somente: Horizontal… Voltam ao passeio silencioso.

    A calçada em frente à farmácia tem um ajuntamento de entregadores, oito ou nove deles, a mesma calça azul e camisa vermelha, a mesma idade. Cadeiras de plástico branco em torno da mesa igual. Eles saltam, gritam e tem a atenção voltada pro centro da mesa onde dois deles disputam uma sensacional queda de braço.

    A mais bela do dia passa por mim. Eu olho. Ela sorri e mexe nos cabelos louros. Na t-shirt dela está estampado Botafogo, em diagonal. Entro na papelaria. Lá dentro um vendedor comenta com outro que o Botafogo contratou o goleiro Roger do Santos. Aparece um terceiro botafoguense. Outro mais. Entro na roda e penso entoar “e ninguém cala, o nosso amoooooor…”.

    Piedade

    Pieta.jpgEram quase dez horas da noite de sexta-feira quando subiram à bordo do ônibus a mulher-estátua, o seu marido e a filha. A mulher-estátua sentou num banco ao lado com a filha. O marido da mulher-estátua sentou logo atrás delas. A mulher-estátua era uma nordestina de estatura baixa e trajava um vestido longo prateado que cobria quase todo o seu corpo prateado. Usava uma peruca prateada em tranças, sandálias também prateadas e parecia muito cansada. Os passageiros fingiram um certo descaso mas logo um cara sentado num banco próximo puxou assunto e perguntou se era fácil limpar aquela tinta. Ela disse que sim. Mas não ficam manchas? Não, sai tudo com água e sabão de côco, respondeu a mulher-estátua, um pouco constrangida. Eu que estava ali fazendo aquela cara de ‘tudo bem, por aqui tudo é normal, até andar de ônibus com estátua’ me animei e perguntei que tinta era aquela. Vicio da profissão. Glicerina com pigmento, respondeu sorrindo. Ah… legal. O marido da mulher-estátua me explicou que ela tinha saido do seu ponto e lá tinha deixado uma outra mulher-estátua, pois que se tratava de uma equipe de mulheres-estátuas, com turnos e pontos pré-estabelecidos. Ha-ha-ha… disse eu. Não perguntei sobre o faturamento por razões óbvias mas esta semana, coincidentemente, vi uma reportagem na TV em que um homem-estátua afirmava arrecadar a quantia de seis reais por dia. Já que estou numa fase matemática, vamos lá. Considerando um turno de seis dias de trabalho por semana isso dá um total de exatos 144 reais por mês. Brutos, sem considerar a grana do almoço e da passagem. É… Lá em Brasilia tem muita gente brincando de estátua, há um tempão, e olha que lá eles tão ganhando uma baba.

    Instantâneos

    Em Botafogo, numa pastelaria da Voluntários, peço à Dona Chinesa-sorridente: Um caldo de cana, por favor. Ela ordena pro atendente: Códo! Bebo o códo e pergunto o preço. Ela devolve: Quê? O preço do caldo. Uom-uau-uen! Caralho, não entendo nada. Olho pro atendente mas ele olha de volta sem ajudar. Descubro o cartaz na parede. Um real e quarenta.

    Em Ipanema, no 157, sempre lotado desde que o mundo é mundo, entram na altura do Bar Lagoa três meninas de 20 anos mais ou menos, bem altas, magras, cabelos mudernos, muito brancas e elegantes. Modelitas certamente. As 3 vão em pé, às minhas costas. São paulistanas e falam sem parar. Estão voltando do “trampo” e reclamam do “puta engarrafameeeiiinnnto, meu!”. Mas são tão bonitinhas que relevo o sotaque.

    Na Lapa, na encruzilhada do capeta. Anotem aí as três ruas que se cortam: Resende X Inválidos X Mem de Sá. Eu atravesso e chego à calçada mas ouço uma freada logo atrás. Viro a tempo de ver o táxi atropelando uma velhinha, assim meio de lado, que com a porrada dá uma pirueta e cai estatelada com um saco de plástico na mão. Corro até ela e pergunto se está tudo bem. Ela se levanta, despachada: Tá tudo bem meu filho. Mas vou precisar ir na farmácia pra ver se compro uma arnica.

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