Archive for the ‘Poesia’ Category

Corujão da poesia e da música

Outro evento com diversão garantida no Rio de Janeiro e em Niterói.

Acompanhar a programação aqui.

“E o melhor de tudo é que uma das principais finalidades do movimento é arrecadar livros para a construção de bibliotecas solidárias em pontos de extrema necessidade do estado do Rio de Janeiro.”

Poesia numa hora destas?

O caderno “Niterói Sábado” do Globo (13/12/08), publicou, na sua capa, com prolongamento por toda a página 3, uma interessante reportagem de Paula Dias sobre algumas “rodas” de arte e poesia que ocorrem regularmente em Niterói. (Para assinantes: É só chegar e declamar.)

• ‘CORUJÃO DA POESIA’: A roda será quinzenal durante o verão. A próxima acontece no dia 15 de dezembro, a partir de 20h30m, no Bar G3. Rua 5 de Julho 301, Icaraí (Tel. 2610-5412).

“Mais do que um evento, o ‘Corujão da poesia’ já pode ser considerado um movimento. Tudo porque João Luiz de Souza, idealizador do projeto e assessor cultural da Universidade Sal­gado de Oliveira (Universo), faz da iniciativa uma oportunidade de incentivar o hábito da leitura. Após passar pela extinta livraria Ver e Dicto e pelo teatro Paratodos, em São Francisco, a roda aterrissou no G3, em Icaraí. O simpático bar de dois andares chega a receber quase 150 pessoas por edição. O próximo evento está marcado para segunda-feira (15/12/08), às 20h30min, mas quem tiver compromisso nesse horário não precisa se preocupar: a roda vai até as 3h da manhã.

– Será uma noite muito bacana, porque vamos comemorar a arrecadação de livros para a criação de bibliotecas em áreas carentes, como os morros do Estado e do Palácio, além do encaminhamento de uma média de 400 livros para os presídios de Niterói – diz Souza.

Lá, o microfone é liberado, e a platéia é protagonista. Exibições de curtas-metragens nacionais e perfor­mances teatrais também têm espaço garantido. O sucesso é tão grande que, durante o verão, o evento deixará de ser mensal para se tomar quinzenal.

– Não temos roteiro. As coisas acontecem de acordo com a chegada das pessoas e com o que elas trazem – explica Souza.”

Chove…

Chuva no Rio de Janeiro - Do blog Rio que mora no mar

Chuva no Rio de Janeiro - Do blog Rio que mora no mar

Esta manhã de primavera está linda e muitas fotos podem ser encontradas na Internet de dias como este, em que o Rio de Janeiro mostra seu lado mais bonito.

No entanto, o post que me chamou a atenção foi este, do belo blog Rio que mora no mar, inspirado na chuvarada de ontem (e que pode se repetir hoje e nos próximos dias).

A poesia de Manuel Bandeira é, como o post, tão bela quanto singela, como tudo o que este mestre fazia.

"Um doce balanço caminho do mar!"

Colagem de manuscritos e fotos.

Colagem de manuscritos e fotos.


A obra de Vinícius de Moraes, que faria 65 anos hoje, também é essencial para quem quer conhecer o Rio de Janeiro de longe.

Você pode começar com este post do Rio em disco.

Depois, navegue pela série de posts do Rio que mora no mar (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui).

Depois, é sair por aí pra ver o mar…

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

O Segredo do Sol

Às oito horas, em ponto, a Rádio Saara toca o Hino Nacional. Qual o endereço das Casas Pedro? Atrasado. A cabeça ainda carrega os copos largados pela metade. Cada cantinho macio ou não parece uma cama. O sapato apressado: Tec-toc. Cadê o crachá?

Todos os dias ele toma nas mãos seu velho chapéu de palha e gira continuamente sob o sol. Faz isso para salvar o mundo.

Vinte e quatro anos. Mês que vem. Tão cedo. Nessa idade as pessoas ainda deviam sonhar. Boa parte das que amava está morta. Os outros vão morrer mais cedo ou mais tarde. Mais cedo. Ele também. O fígado já reclama aposentadoria. Mais trinta anos? Profissão errada. Úlcera certa.

Todos os dias ele toma nas mãos seu velho chapéu de palha e gira continuamente sob o sol. Faz isso para expulsar os demônios.

Vinte e quatro anos. Ele já sabe que não será presidente da república, artista famoso, jogador de futebol. A coluna já dói. O fôlego diminui. Talvez tenha sido. O quê? Só talvez mesmo. Mas continua. Até que.

Todos os dias ele toma nas mãos seu velho chapéu de palha e gira continuamente sob o sol. Faz isso por que não pode parar.

Vinte e quatro anos. Vinte e quatro horas para o fim-de-semana. Fds. Foda-se a folha de ponto. O Estado deveria garantir uma vida sexual decente a todos os cidadãos. Praça Tiradentes? É privada. O trabalho é público. Mas no sebo da praça há línguas estranhas.

Todos os dias ele toma nas mãos seu velho chapéu de palha e gira continuamente sob o sol. Faz isso para vender chapéus.

Vinte e quatro anos. Trezentos e sessenta graus: o cara do chapéu em cima do viaduto. A catedral. O sol se pondo. O retorno. A cabeça querendo cair do pescoço. Queria perguntar por que ele sempre faz aquilo.

Todos os dias ele toma nas mãos seu velho chapéu de palha e gira continuamente sob o sol. Faz isso para pedir perdão.

Vinte e quatro anos. Tanto desejo. E ele só precisava de um chapéu. Ali se vende de tudo. Talvez ainda encontre o que perdeu. Talvez ainda haja esperança entre as canetas chinesas. Um chapéu. Atrasado?

Todos os dias ele toma nas mãos seu velho chapéu de palha e gira continuamente sob o sol. Só revelará a verdade no dia do último eclipse.

Às oito horas, em ponto, a Rádio Saara toca o Hino Nacional.

Pensei em começar com um poema

rio de
alegria e nervoso
e rio do maravilhoso
mar
que me recebe
de manhã cedo
(enquanto já rio de medo)
e sei que não há nada
que me impeça
de rir bem
longe (e rir à beça)
no ano que vem
mas, quando
o ano que vem (re)começa,
me reinvento inteiro:
rio mais do que aguento,
rio do sofrimento,
mas rio de janeiro

Da arte de subir em telhados

Esses segundos antes da chuva. Essa TPM dos céus. Essa dança macabra das folhas. O vento dando um rasante na piscina e círculos pequenos procriando mais círculos, um dentro do outro. Esse cheiro que sobe do jardim e me deixa tonta com sete anos. Raízes e caules excitadas dançando silenciosamente, subindo pelas minhas pernas sem meias e picadas por pernilongos. Ainda não chove e percebo que amo a palavra “ainda”. Ainda não é outono, ainda não viajei para longe, ainda não vi um ser sair de dentro de mim, ainda não comprei carne sozinha, ainda não saltei de um avião, ainda não chove. Mas essa TPM do céu vai acabar. A gravidade é óbvia, e tudo desce. Água então. Como desce. Talvez arrisque olhar para cima e beber o que nos é dado. Talvez arrisque uns passos em poças, as onomatopéias que envolvem água me fascinam. Splash. Uma sereia em minha vida. Uns cantos que me levam, me hipnotizam. Hoje levei minha mãe nas Paineiras, ela não lembrava da queda d’água. Preciso tanto de água caindo, que apelei. A força daquilo na cabeça é para abrir um cérebro e retirar memórias ruins. E olha que não chove há tempos. A força nem estava tão assim. Ainda. Eu disse ainda. Grama molhada, céu menstruado. Tudo passou. Sorrimos como pinturas de Normal Rockwell. Guardas-chuvas absorventes impedem que eu me ensope. Hoje eu vou fazer uma prece pra Deus, nosso senhor, pra chuva molhar meu amor. Ainda não é outono, mas eu o celebro.

for no one – beatles – revolver

Não entendo tua letra no papel que você me deu junto com teu telefone. Teu nome não é. Pois a letra “p” é de fácil reconhecimento. Ela cai além da linha. Fiquei uns etílicos bons minutos tentando decifrar o que poderia estar escrito. Desisti blasé e liguei o carro. Na ponte, não ando nas beiras. No túnel, não ando nas paredes. Nos viadutos, ocupo as duas pistas. Na auto-escola, tinha medo de cair na baía de Guanabara. E ser só mais um corpo por ali, juntamente com os que construíram e morreram. O fascínio pelo meio não é budista. É puro medo. As paredes dos túneis parecem querer me abraçar. Cair por cima de mim. E eu não quero esse abraço. Vou para o meio, que ali ninguém me toca. Na saída do primeiro túnel do Rebouças, sentido zona norte, a floresta do Cosme Velho estala na minha cara assustada. Amanhece. Estou no meio. Preciso dizer em voz alta: “Que lindo” para que eu acredite no que estou vendo. As caligrafias são tão misteriosas, que cogito parar o carro no meio do túnel e tentar, mais uma vez, decifrar. Mas o viaduto já se faz presente. Pelo visto, estou correndo muito. Uma vez, eu não era nem nascida, mas minha mãe tinha uns 18 anos, o viaduto da Paulo de Frontin caiu. Ela tinha acabado de passar e o viaduto caiu. Caiu. Muitas pessoas morreram. Minha mãe não morreu. Se tivesse morrido, eu só seria esperma paterno. Não há nenhum carro atrás de mim. Esse carro só vai até cento e vinte quilômetros por hora. Posso ir pelo meio. A beirada me faz ter arrepios no couro cabeludo. Talvez esteja com febre. Preciso de uma mão materna na testa. Uma vertigem sem explicação, já que sou alta. Diga que é uma péssima explicação. Diga. Tenho medo de uma coisa que me pertence. A Altura. Mas no túnel não é a altura que me causa medo. É a envergadura da parede. Ela quer cair em cima de mim. Esses abraços desconfortáveis. Não pode. Não posso. Chego em casa, bilhetinho amassado na bolsa, tento tirar o vestido de melindrosa que aluguei para o baile à fantasia que estava, e não consigo. O fecho nas costas, anteriormente fechado na casa de uma amiga, não me obedece. Lembro então que moro sozinha. Não há nem porteiro para me ajudar. Lembro também que tenho braços de polvo. Mas não consigo. E ainda dou um jeito no meu pescoço. Desisto e resolvo então, dormir fantasiada. As vestes que cobrem nossos corpos são tão desnecessárias para dormir, que mesmo cansada, quase não durmo. Acordo com um susto às onze da manhã, vou ao banheiro, me olho no espelho, e estou nua. A fantasia foi embora sozinha. Me livrei. Sou tão livre. Mas hoje não há nada maravilhoso nisso. Descobri que sou sonâmbula. Acordo de novo. Agora sou canhota, mas corto bifes e bolas de vôlei com a mão direita. Talvez você seja canhoto e por isso não entendi tua letra. Nem teu abraço túnel. Nem as tuas beiradas. Eu estou na eminência. Eu estou prestes. Nietzsche me contou que quanto mais você olha para o abismo, mais ele olha para você. Esqueci meus óculos escuros. Mas sou tão alta que espero cair como gata.

Carnaval – parte I

Para foder, nestes tempos que correm, parece que é preciso um escafandro. As pessoas pensam muito em foder. E sofrem muito quando não fodem. Quem não pensa em foder está fodido. Mas as pessoas fodem e não são felizes.

Adília Lopes

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